segunda-feira, 9 de novembro de 2015

   
 AS LETRAS ESVOAÇANTES 

Como se estivesse a passar por um muro de vidro embaciado, que por detrás revelava um imenso jornal. Percorri o túnel entre muros de milhares de palavras e letras, alguns metros á frente atraido pela nitidez causada por um brusco desembaciar de um versículo que dizia. " Tudo o que vier á mão , faça-o conforme as tuas forças, porque na sepultura para onde vais, não há obra , nem industria e nem sabedoria alguma". Mais nada se podia decifrar naquele imenso mar de palavras. O barulho ruidoso que se fazia ouvir destruiu o muro das palavras e letras, esvoaçando no ar, diante de mim espalhavam nas calçadas da estação de Cais de Sodré, onde tomei o comboio rumo a Paço de Arcos para encontrar com o meu amigo Ricardo Guerreiro. Falamos desesperadamente como os quadros que tinha acantonados no Atelier. Apressadamente as palavras espalharam por toda a sala e saia debaixo da porta pela entrada do prédio. A minha mulher ligou-me na altura se queria uma boleia. Ela ia para casa. Enquanto falava com ela, sentia e ouvia na sua voz , uns trambolhões de letras e palavras a encher os meus tímpanos. Tinha que sair, a boleia já chegara. O amigo avisou-me. "Não esqueças o quadro" . Ok, ok. Tenho que ir....depois a gente se vê! Durante o percurso para casa, mesmo calado, as letras que restaram esvoaçavam no interior do carro mantendo-nos num silêncio natural. Abri a porta com ideia de registar esta tarde. Tudo o que saiu foi isto: Obrigado amigo Ricardo Guerreiro, por esta guarida à minh'alma.
Depois lembrei que poderia continuar o relato do dia seguinte....

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dedicatória


Dedicatória

Dedico estas palavras a todos aqueles que passaram e não deixaram rastos, a todos aqueles que não foram bonitos ou feios que nem foram capazes de deixar ao menos as suas angústias, de pertencerem a uma nulidade, mas que realmente tiveram algum feito nalguma pedra da calçada desta vida, ás pessoas que como eu quiseram e não puderam, mas que vontade nunca faltaram, aquelas pessoas que morreram com um nó na garganta, escrevo estas linhas, para que ao menos um Nulo escrito, a Nós fosse dedicado, de Nós para Nós mesmos.

A todos os Poetas que ousaram versos supérfluos, sem citações ou conteúdos perceptíveis,

Aos surrealistas do futuro

Aos incompreendidos,

Aos sorteados sem sorte aos amados sem amores, aos inteligentes perdidos, aos que amam as pedras em vez dos Homens.

Nesta página não esqueço os Valentes que não foram sequer à tropa, aqueles cujo sangue ficara verde de esperança vermelha.

Aqueles que sonharam com o real e labutam no irreal.

A todos minhas lembranças.

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( O Diário Ilustrado página 5 10 de Janeiro 2001)

terça-feira, 30 de março de 2010

Panfleto Negro

Servirá para ambos os sexos, este termo que encerra o limite do desespero. – Suicida.
Fora das nossas cabeças, à nossa volta, dentro das nossas cabeças, nos nossos sonhos, a Vida nos oferece de forma inequívocas, distribuídas de modo igual a pobres e ricos, a pretos e brancos, bonitos e feios, a todos, Homens e Mulheres, a “Razão para Viver”.
E por causa disso, os Homens organizaram em sociedade para melhor defenderem a Felicidade Humana. Passaram milhares de anos a construírem esse Património, e não seria o Suicídio certamente, a parar o desenvolvimento da Sociedade Humana.
Espero com esperança, que algum dia isso signifique algo importante a ter em conta, ainda que seja uma remota possibilidade para o fim da Civilização Humana, mereça uma atenção acrescida, pois na sua essência encerra muitas desilusões, humilhações, o despertar do extinto animalesco, o Desespero e a Morte Colectiva.
Das mulheres russas no metro de Moscovo, aos Palestinos da faixa de Gaza, aos maníacos ditadores, enterro a minha alma nos seus motivos de por termo à vida, estremeço-me entre estilhaços de injustiça, intolerância, descriminação, indignidade da pessoa humana, sinto que é pertinente a sua abordagem e reflexão. Afinal o objectivo da nossa luta é viver Feliz, numa sociedade feliz.
Há mais dramas para além dos trinta e oito mortos e dezenas de feridos, há sobretudo a praga, o contágio que faz surgir todos os dias em diferentes palcos do Mundo. Só no respeito pelos outros, mediante direitos e deveres, sempre de mãos dadas a Tolerância podemos atingir esse objectivo.
O não cumprimento dos deveres, ou descurar dos deveres, resulta sempre num desequilíbrio fatal que a tolerância dificilmente tem alguma presença relevante. Assim sendo então acontece aquilo que ouvimos de “carga policial”, (porque acredito que numa sociedade intolerante e autoritária, as forças da autoridade só existem para defender o poder), genocídio, suicidas bombistas, caça às bruxas, enfim uma série de consequências nefastas, de efeito multiplicador.
Pára-se o desenvolvimento Humano e outras vezes com retrocesso a pontos lamentáveis.
Pensar que não tem nada a ver comigo os inocentes do Metro de Moscovo, as viúvas palestinas, ou os órfãos iraquianos, é uma ingenuidade infantil, pois faço parte de um mundo onde nós vivemos, e Amazónia é o pulmão que susterá os meus descendentes.
Quando na tentativa entender um “kamikaze palestino”embora com um medo horrível de perder tudo o que de feliz consegui, ou o que vou conseguir quando realizar os meus sonhos, de repente sou assaltado por fervorosas razões de tão ignóbil acto. Imagino-me um daqueles que ao seu redor ninguém se gaba não ter um familiar, morto ou humilhado pelo poder hegemónico dos seus vizinhos, tanto mais que representa o orgulho patriótico, elemento que pode dar um fôlego á dignidade ferida, mais uma razão, e outra. Se não é tratado na sua dignidade, em igual circunstância poderá ser o suicídio kamikaze, uma forma desesperada de chamar a atenção. Normalmente os casos de kamikazes vêm sempre com rótulos reivindicativos de impossível incompreensão nos momentos seguintes, mas assentado as poeiras emotivas, deviam ter sérias reflexões.
Hoje é cada vez mais visível o fosso entre os homens, uns são muito ricos, outros são muito pobres. Neste desequilíbrio desfilam todos os dias, de forma aparentemente aceitáveis sob um manto onde esconde um desconforto desconcertante. É sabido como os pobres são tratados nos Serviços Nacionais de Saúde, atacados impiedosamente, influenciando o direito básico. Porque de Saúde se trata, repugna até no fundo da alma, que preferem jamais a ter, para viver num corpo constantemente penalizada nesta vida oca. Sentir o desfalecer da dignidade!
Muitos são aqueles que provaram o quão é importante preservar a saúde, só depois de passarem pela gravidade de uma situação sanitária, e estes sempre desejam que os outros percebam antes que o mal aconteça, pois é o que reforço com os versos do meu poeta preferido “Só quem dor igual tenha sofrido, pode medir a minha mágoa atroz”Quando tenho um familiar, como um doente negligenciado, discriminado pela sua condição social, ou corrupção dos seus agentes, sinto uma revolta do fundo da minha alma, que impõe deserdar o meu próprio corpo. Quando se perde a dignidade, é se forçado a usar estratégias menos dignas, pois sabe-se que resta pouco tempo. Ainda preciso de tempo para pensar se o Kamikaze é o último mensageiro, que na adversa situação reclama a sua derradeira mensagem para gerações futuras. Ah! Que fosse! Mas enquanto isto não acontecer, enquanto houver esses desequilíbrios, estes desatinos desesperados, continuarão a fazer do Negro Panfleto um cartaz de real terror para a semente humana. Espalhados poderão estar os seus corpos, mas morrem com a certeza que os seus horrendos sacrifícios levarão o selo da esperança de um futuro melhor para os seus descendentes. Seria definitivamente injusto me condenar pelo incentivo ao suicídio colectivo, ou por violência psicológica, porquanto a minha proposta é alertar para a necessidade de atacar as razões deste acto tresloucado, força de desigualdades sociais.
Sinceramente, apesar do meu desejo de imortalidade, e a minha paixão pela Vida, e ou mesmo do sofrimento que isso causa, não excluo a possibilidade da ultima tentativa do restabelecimento do Equilíbrio, ou mesmo representar o sacrifício de uma mensagem.
Como se diz o velho ditado “mais vale prevenir do que remediar”.
Ataquemos as injustiças, o fosso entre os ricos e pobres, a corrupção, a indignidade, e a intolerância. Se assim fizermos estaremos certamente a contribuir para que casos desagradáveis não venham assombrar o futuro dos nossos descendentes.

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